sábado, novembro 05, 2005

Ahop! Homens?

O ser humano é um bicho complicado. Adora mudar de opinião ao longo da vida e, o mais engraçado; muda de opinião sem saber por que. Parece até que é algo natural, comum, instintivo. Fulano muda de comportamento, as pessoas que vivem ao seu redor também mudam e quando menos se espera, pronto! Entramos na roda junto com todo mundo e já não pensamos da mesma maneira que antes. Somos todos uns grandes “maria-vai-com-as-outras” e nem nos damos conta disso...

De todas essas instabilidades inerentes ao nosso comportamento, a que mais me chama a atenção é sobre as fantasias. Quando o bicho homem é ainda um filhote, o legal da vida é sonhar acordado, viajar no planeta imaginação, de preferência, sem passagem de volta. Fantasiar é a palavra de ordem! Querer ser jogador de futebol, bombeiro, mágico, astronauta, médico. Querer ser e poder ser. Esse é o grande barato das crianças: a falta de compromisso com o real, com o palpável. Elas podem ter o universo ao fácil e curto alcance de suas idéias. E com todo o respaldo e apoio dos “maiores ou responsáveis”.

Quando a natureza pede licença para prosseguir no seu curso e os então filhotes se transformam nos temidos adultos, outra mudança entra junto no pacote. A fantasia é deixada de lado. Justamente no momento em que podemos desbravar o mundo, quando temos todas as ferramentas para tornar aqueles nossos antigos desejos em realidade, desaprendemos a sonhar. Crescido, o bicho homem acha que fantasiar é coisa pra desocupados, pra quem vive no mundo da lua e “não tem rumo certo”. Crescido, o bicho homem não se lembra que fantasiar na sua idade também tem outro sinônimo: fazer planos. O conformismo, a caretice, o adulto chato entra no jogo. Uma ou outra pessoa logo esquece aquilo que um dia foi o mundo da imaginação, outras vão junto e, naturalmente, entramos de novo na ciranda. Acabamos fazendo de nossas vidas uma eterna “correria, sem tempo pra sonhar”, uma grande jornada de trabalho a espera do relógio de ponto.
Desde os meus tempos de filhote, eu cresci ouvindo uma velha canção que dizia: “Por que se chamava homem também se chamavam sonhos / E sonhos não envelhecem”. Demorei um pouco pra entender essas palavras; nem pensava sobre elas. Na época, não tinha muito tempo para a realidade. Hoje, quando essa tal realidade já começa a dominar todos os meus dias, fico pensando numa maneira de não me entregar ao comum, de não me tornar um bicho sem fantasias. Acho que a melhor maneira mesmo é não me esquecer da canção.