terça-feira, fevereiro 15, 2005

Ahop!! Vortemo!!

   Salve, salve! Depois de algumas reformas na casa, aqui estamos novamente pra encher o saco de todos! Pra comemorar os dois anos de nossa mísera existência, resolvemos dar um tapa na casa e reformar a tribuna virtual mais mala da nossa metrópole-presépio. Como diz a frase lá em cima, o que mudou mesmo foi a casa, por que o resto continua a mesma desgraça. A única diferença (que promete ser uma grande diferença) é que dessa vez pretendemos manter uma regularidade nos posts, ou seja, a cada dois dias vai ter algo novo por aqui. No mais, sintam-se em casa! Vai começar a baixaria!



Roubada no Apê do Latino


   Temos que admitir: é uma música grudenta. Daquelas chicletonas mesmo, também conhecidas como vermes de ouvido. Você fica parado no ponto de ônibus, na fila do supermercado e acaba ouvindo sem querer aquele cara perto de você, todo feliz, cantando: hoje é festa lá no meu apêêêêê/ pode apareceeeer/, vai rolar bunda-lê-lê. Depois disso não adianta, o estrago já foi feito. É contar uns dois minutos, e você mesmo vai estar cantando. Daí, passam umas cinco horas, você senta pra ler uma revista e continua com o raio da melodia da cabeça. Fica com raiva, liga o rádio pra se descontaminar, e lá toca a bendita música denovo. Parece um fenômeno, uma conspiração, com certeza alguma coisa do Bush.

   Essa música tem bem a cara do Latino, afinal de contas, quem não se lembra de outros sucessos que impregnaram nossas vidas há alguns anos. Só pra não baixar o nível de vez, vou citar dois hits fantásticos:

1 - Ó baby, me leeeva / Me leva que eu te quero, me leeeva. / Me leva que o futuro nos espeeera./ Você é tudo que eu sempre quis.

2 Tchururururururú / Jogou teu charme em mim / Tchururururururú / Não resisti, tô afim / Tchururururururú / Mexeu com meu coração / Tchururururururú/ Como é gostosa a paixããoooooo.

   Realmente o homem é foda! Quando quer fazer um sonzinho pra pegar na cabeça do povão ele consegue. Isso porque eu ainda nem lembrei das outras músicas que ele fez pra Kelly Key, que também nos atormentaram um pocado. Mas voltando ao tema central, essa música em especial, Festa no apê, tem algo diferente das outras. Todas as antigas falavam de amor, de entrega, devoção a mulher amada etc. Nessa última, o cara mostrou seu lado mais "cafa" de ser, tudo num clima de bagunça, putaria, completamente diferente (e na minha opinião, bem mais divertido) das coisas melosas de antigamente. Essa letra possui todo um enredo, uma descrição de fatos que chega até a nos propor um exercício de imaginação. Afinal de contas, como seria uma festa no apê do Latino?

   Para descobrir isso, nada melhor do que acompanhar a letra. Na primeira estrofe, já rola todo um convite malandro do nosso anfitrião. Hoje é festa lá no meu apê / Pode aparecer / Vai rolar bunda-le-le / Hoje é festa lá no meu apê / Tem birita até o amanhecer. O negócio é bem enfático. Você tá na praia, de boa, tomando uma cervejinha e trocando idéia com o pessoal sobre o que fazer logo mais a noite. Nisso, chega um tipo magrelo, com um bigodinho cretino e uma jaqueta preta de couro (não sei porque, mas sempre que me falam do Latino, me vem na cabeça a imagem daquele "Latininho", que foi no Faustão há uns 10 anos atrás). O cara entra de bicão na conversa e joga o convite usando artifícios que convencem facilmente qualquer cara que não tem muito o que fazer: vai ter uma festa, com putaria e bebida pra caralho. Na falta de opções, o jeito é topar, mesmo já imaginando que o nível da galera nessa festa pode não ser lá essas coisas. Isso pode se prever pelo próprio nível do anfitrião, né.

   Convite aceito, o jeito é encarar a baladinha. O apê deve ser desses que ficam escondidos no final de um bairro meio quebrada. No mínimo, uma hora de carro até achar o lugar. Chegando lá, um predinho meia-boca, com uns 5 andares no máximo. Sem porteiro, é claro. No máximo rola um interfone, mas como o portão do prédio só tá enconstado, você já chega entrando numa boa. O apê é na cobertura, coisa chique. O lugar é longe pra diabo, escondido e mal localizado, o prédio é antigo, sem porteiro, mas alguma coisa tem que ser fina!

   Depois de encarar um elevador meio furreca, daqueles que param de soquinhos no andar desejado, as portas se abrem e... tchanannn. Tá lá o magrelo! Ainda de jaqueta de couro (sóque em vez de preta é vermelha, tipo as do Michael Jackson) e bigodinho, o cara é todo simpático. Chega aí / Pode entrar / Quem tá aqui, tá em casa.

   Feita a recepção, a galera vai entrando aos poucos no recinto. O grupo que veio com você é misto, uns 3 homens e 2 mulheres. Dentro da festa, um pessoal meio esquisitão dançando, enchendo a lata. E mal vocês entraram, o Latino já chega todo malandrinho pra uma das meninas do grupo, pegando na mão, dando beijinho e falando naquele tom vagabundo: Olá, Prazer! / A noite (huum) é nossa. / Garçom, por favor, venha aqui e sirva bem a visita.

   Essa parte do garçom é muito boa! Primeiro porque é um xavequinho muito do sem-vergonha e barato. O cara pra mostrar que é fodão, cheio da grana e elitizado, ele chega dando ordens e chamando um garçom pra servir exclusivamente a mulher pleiteada da noite. Horrível! Segundo porque garçom em festas, pelo menos pra mim, só existe em festa de formatura, casamento, ou então numa recepção de um nível no mínimo aceitável. Nunca numa festa, dentro de um apartamento quebradeira, onde vai rolar bunda-lê-lê! De certo esse garçom deve ser aquele borracheiro que mora na vizinhança e é chegado do Latino. O cara tá na pindaíba, meio sem grana pra comprar as fraldas da sua quarta filhinha, e o camarada músico resolveu dar uma força arrumando um bico de garçom pro amigo. Coisa linda de Deus!!

   Depois de inseridos no ambiente, o pessoal já dá sinais de querer se entrosar com os outros convidados, tomar uns gorós e dançar um pouco. Nessa parte as bebidas são essenciais, pois as vezes é um pouco difícil dançar "Tati Quebra-barraco", o cd que tá bombando na festa, sem um estímulo alcólico. E o anfitrião novamente é simpático, falando de dentro da cozinha do apê, tentando animar as visitas: Tá Bom / Tá é Bom / Aqui ninguém fica só / Entra aí e toma um drink / Porquê a noite é uma criança.

   Estimulados pelo magrelo de bigodinho a galera entra na cozinha e vai fuçar algo pra beber. Como já é de praxe, todos procuram logo os destilados, já que o efeito desejado é atingido num espaço de tempo mais curto. Não achando a bendita garrafa, você vê o garçom lá na sala, tropeçando numa mesinha de telefone e quase derrubando a bandeja no chão. Chama o homem (Ôôôô campeão! Ôô chefe! Chegaí!) e solta a pergunta:

   - Camarada, você tem algum destilado pra galera?
   - Opa, na hora!, responde o garçom, abrindo um sorriso.

   O cara vira as costas, abre uma prateleira na cozinha, na parte de baixo, perto do fogão, e tira de lá, todo orgulhoso, uma garrafa de..... Cynar!!

   - Então colega, de destilado só tem isso....- afirma cidadão, todo feliz com a garrafa meio avermelhada na mão- O único problema é que acabou o gelo, e tem que esperar fazer mais. Agora se vocês quiserem cerveja, tá ali no isopor. - conclui o garçom, ao ver a feição não muito animada das visitas diante do destilado.

   O jeito então é afogar a cara numa cerva mesmo. Você se aproxima do isopor azul-claro desbotado, com a tampa toda raspada num canto, abre a caixa mágica e se depara com.....Nova Schin! Puutz, a cerveja não é uma Bohemia, mas pelo menos dá par distrair e passar um pouco o tempo. Os copos plásticos são distribuídos pra galera (um amigo corajoso pede um copo a mais, pra encarar o Cynar também), você tira a garrafa de dentro da água (o gelo derreteu há cerca de duas horas) e na hora de servir, só tem espuma no copo. A cerveja tá quente. Apesar da água estar um pouco geladinha, acabaram de colocar mais uma caixa de cerveja no isopor e a menor temperatura que ela iria atingir seria aquela. Nos primeiro goles até dá pra enganar, mas antes da metade do copo a cerveja já se transforma naquele líquido leitoso quente, uma desgraça!

   Até agora a configuração da festa tava bem delicada. Mas ainda sim, o seu pessoal entrou um pouco no clima e já arriscava uns passinhos de funk no carpete da sala. Vendo que as visitas estavam se animando e curtindo a baladinha, o indivíduo do bigodinho chega novamente no seu ar mais cafajeste. A vítima é ainda aquela sua amiga, que foi assediada na entrada do apê. Já um pouco alterado pela bebida, o magrelo aproveita a meia luz, pasa a mão no cabelo da moça e sussurra no ouvido dela algumas palavras insinuantes: Tesão, Sedução. / Líbido no ar / No meu quarto tem gente até fazendo orgia. É poesia pura!

   Apesar do forte apelo sensual, nosso anfitrião é ignorado como se fosse um poste e suas intenções mais profundas e carnais foram por água abaixo. Pelo menos por enquanto, afinal de contas, ele é o Latino! Não se sentindo abatido pelo primeiro corte, ele chega perto dos homens da sua turma e esbanja moral. Ele éo dono da festa, o fodão, o papa- anjo! E pra mostrar que pode, fala todo cheio de si: Tá Bom / Tá é Bom / Tudo é festa / Pegação / Vou zoar o mulherio e a chapa vai esquentar.

   Após essas palavras proféticas, lá vai nosso herói de jaqueta de couro vermelha se misturar ao pessoal que dança na varanda do apê. É um verdadeiro caçador. Passa-se meia hora, você tá louco pra ir embora, mas tem que esperar seu amigo (aquele que encarou o Cynar com cerveja quente) parar de se esfregar com uma baranga ao lado da geladeira. Terminado o serviço do "aprendiz de São Jorge", o pessoal se junta e cai fora da festa, mesmo sob os apelos do chapadásso Latino, que de dentro do apê vê vocês esperando o elevador. Numa última tentativa, ele solta os berros: Chega aí / Pode entrar / Quem tá aqui táem casa / Chega aí / Pode entrar / Quem tá aqui tá em casa.

   Já é tarde demais, as visitas se foram. Dentro do carro, no caminho de volta, você coloca no rádio e ouve uma música que não é muito estranha: vrei sa pleci dar nu ma, nu ma, iei / Nu ma, nu ma iei / Nu ma, nu ma, nu ma iei. Nisso você se arrepende de ter ligado o rádio do carro, já que se lembra que essa é uma música grudenta pra caralho, dessas chicletonas mesmo...